Engineers Association . Vila Real by Duarte Silva

afasia archzine | 27.03.2018

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In the modest Engineers Association’s location in Vila Real, you realize that the building’s potential and architecture can once again be gently manifest.

When a building concentrates meanings and returns those same denotations with redoubled intensity, it can be considered a resonance box. This underlines the expectant emptiness between Vila Velha Museum and the obsolete house that defines the void and convincingly assumes its finishes. That same void is the air volume that propagates the sound between walls.

Resonance Box

When it is built to the parcel limit once occupied, the box freely embodies an archetype of any memory and reactivates the density of the street front, in the meantime emptied. For this reason, this is another piece that it’s added to history of Vila Velha, as a new item in the museum’s collection. The building’s prismatic cut out takes away time, hence the timelessness that resonates in any memory. It approaches the decayed wall in the same way that the stone plan of the museum is reflected.

In that context, it is considered an institution-architecture without any monumental intention. Despite the free window composition, the central void height goes beyond the domestic scale, referring a hypothetical axiality. Inside, the space is perceived as unlimited diagonals that widen the gaze in multiple frames. If seen from within, the windows are enlarged lenses of an outer scenery in motion, driven whenever we move, sideways, in depth, rising slowly, returning, observing. If seen from the outside, the windows are amplifiers that when they appear too small or large, deepen, by contrast, the museum’s silent casing.

Without any programmatic curtsy, the unfolding of the building’s void of the Engineers Association deferred its understanding and prolonged its experience. By expressing itself gently, the playful sense of the Venturi’s soul of Belém Lima invades the melancholy of the Rossi’s archetype. Like a sound device, the skilfully trimmed
resonance box ambitions for other sounds and surpasses the physical dimension with the amplitude of its performativity.
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1381OE
Ordem dos Engenheiros
Localização | Location
Rua de S.Dinis, Vila Real
Projecto/Obra | Project/Work
2013-2017
Arquitecto | Architect
António Belém Lima
Equipa de Arquitectura / Architecture Team
Duarte Silva, Cláudia Lopes, Francisco Seixas da Silva, Luís Monteiro da Gama
Engenharias | Engineering
Estruturas | Strutures
Carlos Moreira4
Hidráulica | Hydraulic
António Pádua Azevedo
Electricidade | Electicity
Luís Pizarro
Acústica | Acoustic
Rui Calejo
AVAC
Rui Fortuna
Segurança Contra Incêndios | Fire Safety
Rogério Bessa/Isabel Veiga
Cliente | Client
Ordem dos Engenheiros
Construtor | Constructor
Anteros – Empreitadas, Sociedade de Construção e Obras Públicas, S.A.
Mobiliário | Furniture
Tartaruga | Adelaide Serra
Fotografia | Photography
Fernando Guerra + Sérgio Guerra
Texto | Text
Bruno Gil
Tradução | Translation
Joana Guerreiro Cravo
Design Gráfico | Graphic Design
João Araújo & Rita Huet And Atelier

Belém Lima, um arquitecto do mundo no interior do país by Duarte Silva

Mariana Correia Pinto | publico.pt | 28 NOV 2016

Para “aproveitar o silêncio” do atelier, de interiores vestidos de branco num edifício negro, António Belém Lima tem por hábito “madrugar”. Antes das sete da manhã já o arquitecto trabalha no número 1 da Rua do Entroncamento, em Vila Real, num edifício habitacional com a sua assinatura. No interior do país, testa uma arquitectura feita muitas vezes a partir de referências distantes: de outros trabalhos arquitectónicos, mas também de pintura, de desenho, do dia-a-dia banal. Belém Lima quer amar os territórios, e ao mesmo tempo desprender-se deles. Acredita na criação para lá do contexto: porque a arquitectura, diz, deve “igualar-se à paisagem”. Vila Real, a cidade onde nasceu, está recheada de obras dele: habitações, o Museu da Vila Velha, o Conservatório de Música, a Biblioteca Municipal. O Douro também. Em 2008, foi o vencedor do Prémio Arquitectura do Douro, com o Museu da Vila Velha. Em 2014, com a Adega Alves de Sousa, foi nomeado para o prestigiado Mies van der Rohe. Este ano repetiu a proeza ao ser nomeado para a edição de 2017 do prémio, com o Solar da Porta dos Figos, em Lamego.

Fez-se ao caminho da arquitectura depois de uma passagem de três anos pelo curso de Engenharia Electrotécnica, que fez em Coimbra durante dois anos e em Lisboa por mais um. Na capital, no café Monte Carlo, encontrou um mundo diferente e mudou de rumo. A escolha do curso de arquitectura em Belas Artes, percebeu depois, tinha até antecendentes genéticos: o pai era desenhador no único gabinete de arquitectura de Vila Real e Belém Lima cresceu entre desenhos. Entre revistas de arquitectura onde se reproduzia “um período áureo da Europa, a sua reconstrução, nos anos 60.” “De alguma maneira, isso deve ter-me ficado na memória”, contou ao P3 o transmontano nascido em 1951. Depois de Coimbra e Lisboa, regressou a Trás-os-Montes. Onde se mantém e manterá. Uma conversa sobre passado e futuro. Crise e resistência. Sobre um país que, "apesar das esperanças de Abril nunca deixou de ser desigual.

Fez o curso em Coimbra e Lisboa, mas acaba por voltar ao interior do país no início dos anos 80. Esse regresso às origens era importante para si?

Não foi estratégico. Simplesmente queria ter profissão liberal e aqui foi-me mais fácil. Conhecia mais gente. Não foi nenhuma ideia nostálgica de regressar. Pelo contrário. Era uma inocência regressar a uma região onde não havia riqueza e onde as oportunidades são muito menores. Aliava-se a isso uma certa inocência daqueles anos pós 25 de Abril em que acreditávamos que o país ia ficar todo igual e com as mesmas oportunidades. O que nunca aconteceu, nem vai acontecer. Apesar das esperanças de Abril, o país voltou a densificar-se e a enriquecer na costa. Só agora, com o esforço de alguns, temos uma área com uma economia viva e que se auto desenvolveu: a economia do Douro.

Foi difícil ganhar espaço?

A certa altura percebi que esta não é uma zona de grandes oportunidades. Mas o meu percurso de arquitecto foi-se auto sustentando. As obras — ainda que poucas, pequenas e com orçamento limitado — foram produzindo algum conforto na minha vida. Ainda hoje continua a ser assim. Entendi que era possível fazer essa arquitectura e ao mesmo tempo não prescindir dos meus princípios e objectivos profissionais. De certo modo, acho que foi até um exemplo para alguns arquitectos que estavam na mesma situação. Em 1994 fizemos uma exposição no CCB, “Arquitectura In-Possível”. Foi o reflexo de uma mudança e da entrada de outros pontos de vista que não os do Porto e Lisboa, onde se decidia a cultura arquitéctonica portuguesa.

De que forma ser um transmontano a criar no Douro se reflecte no seu trabalho?

Há uma fronteira entre duas posturas arquitectónicas diferentes. Uma que se constrói tendo como pretexto o contexto, o que está à volta, os antecedentes. E uma outra, da qual me aproximo mais, que se inventa com regras próprias. Um exemplo: as igrejas e as catedrais medievais seguiam regras da arquitectura religiosa, do românico ou do gótico, independentemente dos sítios onde estavam. Eram iguais em França, Portugal, Inglaterra ou Espanha. O valor dessa arquitectura vinha do modo de estar. Não é transmontana nem duriense. Apesar de não ignorar o contexto e a paisagem. A minha arquitectura não nasce de uma sensibilidade por estar neste local, mas também não é de outro local em particular. É uma arquitectura que ama os territórios onde se faz.

Mas consegue identificar características comuns à arquitectura feita no Douro?

Por exemplo, a utilização de grandes janelas e vãos, a relação entre interior e exterior. Há muitos exemplos disso. Mas não concordo muito com essa visão. Acredito que se passarmos o tempo a abrir janelas para a paisagem ela se banaliza. Muito vidro tende a significar mais transparência e, por isso, mais modernidade e uma obsessão de ver tudo. Tenho uma postura diferente: a paisagem é importante, mas a arquitectura deve igualar-se à paisagem. Ela própria criar condições para que a paisagem seja ainda mais importante e tenha mais força. A nossa atitude é de controlar ou filtrar o modo como vemos a paisagem e dramatizá-la. Em relação ao Douro em particular há outra questão: a do clima. Se há um carácter que influencia a arquitectura é o clima. O regime de calor extremo, a importância da sombra: isso são elementos que são matéria-prima para a arquitectura. Faz-se arquitectura com isso.

Sem ter como objectivo camuflar, é isso? Muitos colegas seus trabalham no sentido contrário...

Muitos não, a maioria. 97,5%. São duas posturas diferentes, não há uma mais correcta do que outra.

A visibilidade do Douro foi uma mudança importante no volume de trabalho dos arquitectos?

Sim. Mas é uma coisa relativamente recente, da última década. Há uns anos havia uns eventos chamados "Douro Duero", que juntavam fazedores de vinho portugueses e espanhóis. Convidaram-me para participar numa mesa redonda sobre arquitectura e vinho. Com o Fernando Guerra, que tem fotografado todo o meu trabalho, fiz um périplo pelo Douro durante um dia a ver adegas. Não havia quase nada de arquitectura contemporânea. Ao chegar a Espanha vi que todos os grandes arquitectos já estavam a fazer adegas. Daí para cá assistiu-se a um crescimento enorme que na minha opinião tem a ver com a energia na nova geração de enólogos, donos de quintas e produtores, que vive muito apoiada no mercado externo e que está a fazer um esforço para melhorar tudo. A tecnologia do vinho — a plantação, pôr inteligência na feitura do vinho, etc — e esse esforço foi-se expandindo até ao turismo, ecoturismo, adegas, marketing. Até à agricultura associada à feitura do vinho.

Como avalia o actual momento da arquitectura em Portugal?

Os arquitectos estão a sentir o mesmo que os enfermeiros, médicos, advogados. É uma crise que não é de uma classe e não é só portuguesa. Passa-se o mesmo em Itália, na Grécia e noutros países. Não tenho soluções. Uma das actividades económicas que entrou em colapso foi a construção. Portanto, ou a economia permite que haja desenvolvimento da construção ou não se resolve. No Porto e em Lisboa, o turismo e a atenção aos centros históricos está a criar algumas oportunidades. Essa atrapalhação dos jovens arquitectos é mais sensível no interior do que nas duas grandes cidades. Teremos eventualmente produzido arquitectos a mais. Ao contrário do que se passava na minha geração: havia trabalho, mas as pessoas nem sabiam bem o que esperar de um arquitecto. Houve uma diversificação das actividades: alguns estão em escritórios e outros enveredaram por curadoria, publicações, aulas, entraram em territórios como a cenografia, gestão do território. Eu próprio passei por um aperto enorme porque o trabalho desapareceu debaixo dos pés. Para atravessarmos esse período que agora me parece, por via do Douro, estar a melhorar, chegamos a fazer projectos sem honorários ou com honorários como nunca tinha feito. Para manter o escritório a navegar.

Já disse que não tem soluções fechadas. Mas como se faz frente a este problema?

A única maneira de olhar para isto é como se faz com as gruas no cinema: levantar e ver um bocadinho mais de cima. Sempre houve períodos de crise na profissão. Não como este, mas houve. Gosto de fazer uma comparação, que não é literal, com o outro período em que Portugal faliu, quando o Brasil se tornou independente. Portugal faliu mesmo: ¾ da economia do país viviam dependentes do Brasil. No mundo da arquitectura aconteceu que uma série de obras ficaram inacabadas. Ficou uma cicatriz física nas cidades. Um exemplo que todos conhecem: o Palácio da Ajuda. Nunca foi terminado. A profissão tem de se ajustar ao momento. Ninguém nos vai trazer soluções do céu. Esta diversidade de ocupações dos arquitectos já tem a ver com isso. A auto-iniciativa também pode ajudar: os jovens arquitectos mostrarem-se activos na sociedade, serem críticos. Na nossa área muitas vezes a nossa palavra é ocupada por pessoas de fora. Engenheiros, urbanistas, sociólogos. Os arquitectos têm formação e conhecimento para estar mais nesse debate. No passado estávamos tão preocupados com a vida de escritório que não nos preocupávamos com isso. Julgo que isso está a inverter-se. A nossa contribuição é técnica e estética. O Douro obteve a classificação como património mundial da humanidade na paisagem. Mas os núcleos urbanos não estão classificados. Aí há muito trabalho a fazer em matéria da imagem da cidade e das vilas. Do cuidado e da qualidade, que muitas vezes é olhada apenas do ponto de vista do tráfego, se tem mais ou menos sinais de trânsito, mais ou menos passadeiras. Isso não é tudo. Há muito a fazer e com um papel determinante dos arquitectos na intervenção no espaço público. Não podemos perder o pé nesta área.